quinta-feira, 1 de abril de 2010

Cada dia desperto mais e mais ao sul a um sol diferente
eu dispo as camisas de meus peitos inflados, aprecio-lhes o cheiro de leite e tabaco o cheiro de um abraço por demais prolongado, o cheiro das meias gastas no tempo que tomou-me o caminho
eu me lavo e volto a vesti-las
Todo dia mais ao sul evidenciam-se os sinais da casa grande
não as maneiras da casa grande, mas o seu perfil isolado
da aurora invadindo-lhe incontinenti os flancos, do silêncio horizontal
do calor despertando seus aromas e sabores, do calor fazendo mexer o corpo mole e de seus aromas e sabores
que invadem habilmente os troncos, que destroçam intenções fraternas
que rescendem a esse abraço antigo, ao sangue que escorre das largas janelas.

Quanto mais ao sul, deitada com o gosto dos cigarros úmidos
quanto durmo de ouvidos colados à terra
oiço os barulhos das quedas de outras mulheres, barulhos de cabaças curtidas à noite, dos utensílios cristais de âmbar surgindo, da memória imensa papilar das barrigas crescidas com carne de boi;
Quanto
mais reta a estrada mais espaçadas as reses as almas idas
mais o chão da casa grande, o seu vazio de couro, a merda fresca couro e tabaco trançados, o tecido a madeira a renda triste os cheiros tremem na planície que se estende ao grande sul do mar de morros, planície de longas tábuas corridas,
infinita, fugitiva, leito de saudosas neblinas,
rima de amor ao frio

Quanto ao sul, pressinto
ditada num sotaque marcial a história de uma vingança fracassada, esquecida,
reles e cômica à mulher que sonha.

3 comentários:

  1. "curtidas à noite"? santa inspiração, kiddo! tenho gostado desses ares...

    te amo, cheio de saudades, reles mulher cômica do meu coração.

    besos,

    ernest.

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  2. muito melhor que os balés de bruna beber...desculpe...saudades menina..beijos de um novo fan.

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